'quem se atreve a me dizer do que é feito o samba - nem se atreva a me dizer.'
falam demais de samba... talvez o samba da gente não seja simplesmente o gingado que é viver? que precisa de malemolencia, que te exige quase uma indescencia, uma coisa meio entre todos nós, eu e você?!
porque samba por samba é quase visceral - uma naturalidade de mexer os pés, pra levantar da cama, pra escovar os dentes com a musicalidade implicita nos movimentos. sabe o que é? acho que acordei tão bem hoje, de forma tão completa, tão pura, tão limpa, tão inocentemente ambiciosa que falar de samba é quase uma metáfora de eu não sei o que.
'eu vou no samba...'
penso na nossa velocidade no compasso da música, algo dois pra lá-dois pra cá, rodadinhas, caidinhas, escorregadinhas, pisões nos calos, rebolados, coxas roçando, corpos dançando, disputando espaço com outros corpos dançando, entendendo-se apesar da disputa que todo espaço é pra ser ocupado.
'samba maioral, onde é que você se meteu antes de chegar na roda, meu irmão?'
saimos de onde pra chegarmos onde e porquê? as notas mudam com o passar dos passos e é assim que a composição coreografada torna-se concreta - torna-se canção, torna-se roda de sensação, de sapatos esfregando no chão - rastapé.
'eu entendo o seu depois.'
quem vive, quem sambasambasambasambarsambou não cansa. por isso que se os pés doem, a gente só espera na sombra, mas não para; se existe som saindo dos batuques verbais, orais, percurssionais, ah... a gente entra na roda - e não quer sair.
e se você, amor, põe líricos nas melodias, meus dias tornam-se lirios abertos: nem me atrevo a lhes dizer.
'não, eu não sambo mais em vão.'
11/02/2014

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